Fator psicológico: A mente que mente.

O medo é o fator psicológico que mais influencia nosso desempenho enquanto
escalamos. Ter uma boa relação com ele pode ser a principal diferença entre uma
escalada desfrutável ou tensa ou ainda o fracasso ou o sucesso. Apesar de existirem
outros medos que nos influenciam quero falar sobre o que mais apavora, o medo de
cair.

O medo de uma queda é um sentimento comum a quem escala, e principalmente
suas consequências é que mais apavoram. Existem dois medos: o medo “irracional”,
aquele que não tem razão para existir e o “racional”, que existe e ajuda a nos manter
em segurança.

Para controlar o medo irracional faça uma “análise racional” sobre os aspectos que
possam influenciar em sua segurança, como: equipamentos, assegurador, exposição,
experiência, preparo físico e condições da via no dia. Se você não encontrou nenhum
perigo racional como: proteções duvidosas, quedas perigosas, equipamentos em
más condições, assegurador inexperiente ou distraído, não existe razão para temer!
Para saber se tem este medo irracional veja se escalando em vias bem protegidas
você nunca vai até seu limite, geralmente desiste sem tentar e segura na costura
para evitar a queda. Então em condições similares sempre que sentir medo lembre-
se desta “análise racional” e escale concentrado, se tiver que cair caia escalando,
tentando, não desista! Tenha isso em mente antes de escalar e comece a ter uma
atitude diferente, não seja enganado pela sua mente.

No medo racional enfrentaremos os perigos reais da escalada, como: esticões, proteções complicadas, orientação difícil, blocos soltos… Durante a análise racional você identificará à maioria dos perigos e quanto mais comprometida e longa a via mais informações devemos coletar. Consulte guias, textos, fotos e se possível converse com outros escaladores que já tenha repetido a rota. Veja se já possui experiência suficiente para entrar na via e cuide com as opiniões de quem já repetiu,alguns descreverão como um terror e outros como um passeio! Se você decidiu escalar tente se manter motivado e focado, não transforme a escalada em mito,como você já deve ter percebido as pessoas podem ter pontos de vista negativos ou positivos da mesma via. Durante a escalada não fique focando na queda, olhando para a última proteção ou pensando “porque diabos entrei aqui?”, mantenha-se concentrado na escalada, controle sua ansiedade prestando atenção em suave respiração, tente encontrar uma posição de conforto no desconforto, relaxe no esforço e nem pense em cair, agora não é hora de desistir!Sua mente estará querendo te levar sempre para uma zona de conforto, longe do perigo e do esforço. Uma boa técnica para observar isto e para controlar melhor os medos é se observar como uma terceira pessoa. Você deve controlar sua mente e não ao contrário, lembre-se “Sua mente”!

Existem alguns livros sobre treinamento em escalada que dedicam um capítulo ao
treinamento mental e psicológico, o mais interessante e que dedica todo o livro
sobre o assunto é o “Guerreiros de la Roca” de Arno Ingner e publicado pela editora
Desnivel.

Texto escrito para o Jornal da Montanha por Daniel Fernandes.

 

=======================================================================

 

A via Crazy Muzzungos

 

A via Crazy Muzzungos esta na Pedra do Garrafão localizada no Parque Nacional Serra
dos Órgãos em Terresópolis-RJ, dentro do chamado “Vale da morte”.No vale além de
outras montanhas impressionantes está a Pedra do Sino com algumas das vias de big wall
mais difíceis do Brasil! Esta via foi o primeiro big wall do vale, conquistado em 1983 por
uma equipe de suíços, com 16 cordadas ( 600m ) graduada em 5 VI+ A2 D6 é famosa pela
famigerada aproximação que é considerada por muitos como o big wall de mais difícil
acesso do Brasil.
Ouvi mais detalhes desta via na temporada de 2004 quando estava em São Bento do
Sapucaí-SP. Mas só fui repeti-la no inicio de Julho de 2007 quando estava na internet e li o
e-mail do amigo de SP Bruno Melo “Cabeção” para a lista do Hang On procurando o
croqui da crazy, na hora enviei uma resposta perguntando se estavam precisando de mais
um parceiro e dia 06/07 o Bruno me buscou na rodoviária de São Paulo, passamos em São
Bento do Sapucaí para buscar o Beto (Roberto Sponchiado) e partimos para Teresópolis.
Depois de alojados no Albergue do Lord acertamos o transporte de ida e volta ao parque
com a simpática Dona Ângela.
A aproximação começa pelo leito do rio Soberbo onde entramos dia 8 as 6 AM e
iniciamos uma caminhada que poderia ser graduada pelos lances de boulder que não
paravam de surgir, na maioria das vezes pedra molhada e musgo com as mochilas pesadas,
eram de matar!! Em muitos lances que não dava para cair, mas não faltaram quedas na água
e no mato enroscado entre espinhos e cipós! Já no final do dia ficamos em duvida, pois
tínhamos que encontrar um afluente à direita e uma “mega cachoeira” onde havia uma fita
vermelha e uma corda fixa indicando sua subida pela direita, assim estava descrita no e-
mail que a Kika tinha enviado ao Bruno, também encontramos um acampamento de
caçador que foi descrito no e-mail e ai confundiu mais ainda!! Entramos em um vale errado
e perdemos mais algumas horas! Resolvemos seguir mais pelo rio e acampar no melhor
lugar possível. Pouco antes de anoitecer achei um totem de pedra em uma das passagens
descritas no e-mail, estávamos no caminho certo!! As 12h do segundo dia chegamos no
bivac próximo à base.
No primeiro dia de escalada subimos as três primeiras enfiadas em muitos furos de clif
grandes e quebrados acabando num trepa mato bem pegajoso! O Cabeção guiou as duas
primeiras, eu guiei a terceira eo Beto organizou o bivac e equipos que puxaríamos até a
terceira base. Voltamos ao bivac nos alimentamos bem e dormimos cedo, pois as 2:30 da
matina acordamos para iniciar o segundo dia de escalada.
Ainda totalmente escuro e com um céu incrivelmente estrelado esperava meus parceiros
para guiar a quarta enfiada, eles se atrasaram um pouco com o haul bag enroscando em
algumas coisas e às 7h estava guiando. As cordadas demoraram um pouco mais do que
imaginamos e entre 5 + “forte” e A2 chegamos a P8 às 21h, com direito a “guiadinha” à
noite que o Beto mandou muito bem. Ventava muito o céu estava bem estrelado e já
tínhamos a incrível visão da Baia de Guanabara! Chegamos no platô que se revelou uma
grande decepção por ser todo inclinado sem lugares bons para deitar, um lanche rápido e
bora para os sacos de dormir, pois o vento estava pegando!!!
Guiei as duas cordadas depois do platô com o maior prazer, depois de três dias sem
pegar sol foi muito bom esperar os parceiros pegando um sol! Essas enfiadas seguiam por
fendas lindas e toda em livre!! Mais uma enfiada curta guiada pelo Beto e chagamos no
ombro, uma caminhada cansativa neste grande platô até a base da P12. A neblina fechou
completamente e já começava e chuviscar, caralho a ultima cordada sai em aderência!
Encharcada seria impossível escalar! Bruno fixou duas cordadas depois do ombro e quando

parou já estava tudo molhado. Descemos até o ombro onde comemos uma boa lentilha e
tentamos dormir debaixo da chuva!
No sexto e ultimo dia o tempo ficou entre sol e nuvens, subimos os equipamentos até a
P14 e como estava tudo molhado seguimos por uma canaleta de mato a direita que saiu em
uma fenda com acesso fácil ao cume!! HUUUU finalmente, fotos, videozinho, beber uma
aguinha das poças e se organizar para descer, o dia estava só começando. Um rapel até o
col entre o Garrafão e as encostas do sino, escalar na pedra molhada por um cabo de aço
passar alguns buracos e chaminés e o mais difícil puxar o haul bag ! E quando eu pensei
que ia aliviar uma caminhada nos costões que levam ao cume do Sino ao entardecer com
neblina sabendo que estávamos entre paredes e vales gigantes, a atenção foi total para não
descer no local errado! Depois de subir o sino chegamos ao refugio 4 da trilha Tere-Petro
onde se caminha mais 12km até a entrada do parque. Não tem moleza, esta ultima parte a
galera caminhava no limite, “zumbi” caindo de sono! Chegamos a 1:30 da madrugada e a
Dona Ângela foi nos resgatar na entrada do parque. Foi a escalada mais exigente
fisicamente que já fiz! Alem de muita resistência é preciso experiência em orientação pois,
não existem trilhas demarcadas e muita raça! Não é para playboy malandragem!

 

======================================================================

 

Parque Municipal do Morro do Baú

O Parque municipal do Morro do Baú que é propriedade do Herbário Barbosa
Rodriguez foi fundado em 1961 pelo padre e botânico Raulino Reitz, que é considerado
o patrono da ecologia catarinense, ele se comunicou durante anos com Charles Darwin
e suas pesquisas contribuiram para a teoria de evolução das espécies. E não foi atoa
que ele escolheu este local para realizar a maior parte se suas pesquisas botânicas. No
Baú a mata Atlântica é incrivelmente preservada possuindo várias espécies endêmicas
e árvores gigantes. O padre foi o primeiro a subir ao cume.

Após os catastróficos desmoronamentos causados pelas enchentes de 2008 que
destruíram parte da sede do parque o mesmo encontra-se sem funcionários,
infelizmente abandonado.

Escaladas:

A maior parte do arenito e conglomerado que formam o Baú e a Pedra do filhote são
cobertos por densa vegetação, somente a face leste do Baú e as faces oeste e norte do
Filhote apresentam rocha desprovida de vegetação.

A primeira via foi aberta em 1989 pelo querido escalador local Lutmark Bohr “Lutinho”
pela face sul do filhote, escalada corajosa de trepa mato que foi realizada com
equipamentos caseiros. No inicio de década de 90 com a vinda para Blumenau do
escalador Everton de Curitiba e a ajuda da primeira geração de escaladores da região
foram abertas mais duas vias; Highlander 5VI A0 E3 100m e Lua de Mel 6VI+(7c\A0)
55m. Entre 94 e 97 fanáticos escaladores locais, Adriano Ruck, André Luiz de Zutter
e Luiz Lamparelli e André Herman contribuíram com excelentes conquistas. Vias mais
exigentes e aventurosas como a Anjo da Guarda 6VI+E2 70m, O céu éo limite 6+VIIbE3
45m e Donzela 6VIIbE3 45m. Já nesta época esta galera começou a usar nuts, friends
e os antigos exentrics, poupando a pedra de furos desnecessários e apimentando o
comprometimento das escaladas!

Escalei no Filhote pela primeira vez em 99, fiquei encantado com o estilo das escaladas
e foi minha primeira escola de escalada tradicional. Em 2000 conquistei com o amigo
blumenauense André Deeke “Mancha” mais 4 vias: Eidechse 6VIE3, Bicho pedra V,
Rastronautas VI+E3. Todas com proteções móveis e ou naturais.

Em 2009 os escaladores blumenauenses Luciano Siqueira e Anselmo de Oliveira
iniciaram a conquista de uma via na face leste do Baú, provavelmente esta via terá uns
200m de extensão e acessará o cume, ainda esta inacabada.

Após mais de um ano sem voltar, em 2010 fui acompanhado do amigo Watson K.
Saito o “Bill” e em duas investidas abrimos a via “Homem sem isqueiro não vale

nada!”5VI+(7c\A0)E2D1 140m na face leste do Baú. Também neste mesmo ano o
Adriano Ruck e o João Batista abriram a via Se não fosse os amigos 7a (VIIc\A0) em um
bloco próximo ao cume do Baú.

Poucas mais intensas vias te esperam neste local lindo! Estou escrevendo o guia de
Escaladas do Vale Europeu Catarinense onde alem das vias do Baú teremos também os
setores de Rio dos Cedros, Blumenau, Pomerode, Apiuna e Massaramduba.

Deixo aqui uma homenagem ao amigo Lutinho que infelizmente faleceu começo deste
ano em um acidente rural. Ele foi um dos principais incentivadores do Montanhismo
local! Obrigado Lutinho!!!!

Acesso ao Morro do Baú:

Siga pela BR 101 até o trevo de Navegantes-SC, onde começa a BR 470. Dirija por
aproximadamente 15 Km e entre a direita (sentido litoral serra) numa estrada que
corta a BR e tem placa indicando sentido Belchior. Siga pela estrada e na primeira
bifurcação entre a esquerda, depois da segunda ponte de concreto “torta” entre na
primeira ponte a sua direita. Na duvida pergunte aos moradores locais como chegar ao
Parque do Morro do Baú.

Acesso as vias e Cume:

Passe a ponte na entrada do parque e siga pela estrada ( o que restou dela) até chegar
a um grande desmoronamento, ai há uma placa indicando a trilha para a Cachoeirinha,
não siga, pegue a direita subindo o desmoronamento, uns 30m acima você encontrará
a trilha novamente, siga pela direta. Ande até uma pequena cachoeira, mais uns 50m
tem uma curva para a esquerda, a trilha para o Filhote começa a direita da estrada.
Basta seguir em 30min você estará na base da face oeste do Filhote, bem onde
começam as principais vias. Da entrada do parque até a base do Filhote são cerca de
2h.

Para a base das vias Highlander e Homem sem isqueiro não vale nada, após chegar
ao Filhote vá costeando o baú até encontrar uma grande figueira, suba pelas raízes
da figueira até o platô onde iniciam as vias. Saindo do filhote não existem trilhas
demarcadas.

Para ir até o cume continue subindo pela estrada até uma clareira, a esquerda desta
começa a trilha para o cume. Daí em diante basta seguir com atenção, nos trechos
mais duvidosos procure uma seta amarela nos blocos de pedra, estão meio apagadas
mais ainda é possível vê-las. Da clareira até o cume leva em média 30min. Da entrada
do parque até o cume são cerca de 2h.

Texto escrito para o Jornal da Montanha. Autor Daniel Fernandes

 

======================================================================

 

Escaladas em Rio dos Cedros

 

Estava num sobe e desce de desesperar, já passava das 15h e o sol castigava, o suor
escorria para meus olhos e eu não podia enxugar-los e um gosto muito amargo
proveniente dos liquens que cobrem as partes mais sombreadas da parede tomava
minha boca, hurg! Buscava coragem e confiança para escalar os últimos metros sem
bater grampos, e assim conseguimos!! Eu, o Leonardo Voelz e o Christielsen P. Dias
durante o feriado de Páscoa de 2002 abrimos a via “Gosto Amargo” primeira do Morro
de Rio Bonito. Depois deste dia este pico se tornou meu preferido principalmente pela
quantidade, qualidade e particularidades das fendas.

Nos anos seguintes voltei inúmeras vezes com diferentes amigos e abrimos dezenas de
vias!! A cada via aprendíamos mais sobre como escalar aquela pedra e principalmente
como abrir as vias de maneira mais natural possível utilizando predominantemente a
proteção móvel e fixando o mínimo, ou melhor, nenhuma chapeleta ou grampo. Quando
não rolava escalar o lance em livre passávamos em artificial, sem bater proteções, e
decidíamos depois. Todas as vias do setor foram conquistadas, algumas rapelamos para
retirar blocos grandes que estavam soltos, mas eram sempre abertas de baixo. Apartir de
2004 os escaladores Rian Muller, Marius Bagnati e Adriano Ruck ,contribuíram e muito
para o desenvolvimento do local , abrindo vias “lindas, duras e limpas” como: “Foda
sem Zíper”6+ IXa A3 E3 , “Corvo Branco 7 VIIIa A2 E3, “ La Bella Polenta” 6VIIa A1
E3.

A escalada de da região tem gosto de aventura! Os diedros fendados reinam e fendas
encontram-se de todo tipo, paralelas, irregulares, fissuras, chaminés … Certeza de
escalar quase sempre com a cadeirinha cheia de peças, algumas vias exigem 2 jogos de
camalots, TCU’s e Nuts!! Tem paradas em móvel, cordadas em artificial da até A3 e
em livre até VIII grau protegidas quase ou totalmente em móvel! A maioria das paradas
são em platôs perfeitos, alguns gigantes, o “Platô da Bruxa”, parada comum a algumas
vias cabem 5 pessoas tranquilamente! As maiores vias até agora abertas tem em torno
de 80m em sua maioria de paredes verticais e ou negativas. O grau predominante e o 7
grau em algumas vias há pedras soltas, o que exige cuidado! Escale sempre de capacete
nesta região e alerte quem ficar na base!! E uma característica muito legal é a presença
de um grande teto que protege a maioria das vias da chuva, algumas nunca molham,
possibilitando escalar com chuva!!! Mas também por esta razão não urine nos platôs!!

Alem do Morro de Rio Bonito que possui 27 vias tem a Pedra da Forquilinha com
8 vias e ambas estão localizadas na barragem de Rio Bonito ao lado da represa de
Palmeiras no município de Rio dos Cedros-SC. Na Forquilinha diferente do granito do
morro é de arenito e possui vias mais fáceis e acessíveis para quem esta iniciando na
escalada tradicional. É possível alcançar os cumes de ambos os setores por caminhada,
a vista é incrível! O Morro de Rio Bonito esta dentro da Estância Turística Vale dos
Ventos que disponibiliza chalés para alugar. Tanto para escalar como para acampar é
necessário avisar aos proprietários, a Família Bona, que é conhecida pela hospitalidade
e simpatia. No site www.valedosventos.tur.br você obtém informações de como chegar
e pode falar com o administrador da estância o Ivam Bona. Mais informações sobre
as escaladas veja no blog montanhistadaniel.blogspot.com ou fale comigo pelo e-mail

contato@garraaventura.com.br e desfrute das escaladas este lugar é mágico!!

Escrito em 2010 por Daniel Fernandes, para o Jornal da Montanha.

 

=======================================================================

 

Neurônios Fritos

 

Uma das vias de parede mais conhecidas do Brasil a “Neurônios Fritos” 5 VII A3
250m, aberta em 1992 pelos Montanhistas Eliseu Frechou e o mítico Bito Meyer foi e
ainda é uma via de respeito! Um teto em A3 seguida por uma cordada de VII bem exposta
na qual o guia cai em cima do segue, eram as cordadas crux. Algumas proteções estariam
em péssimo estado, poderia haver marimbondos no teto e é claro aquela sugeirinha típica
de vias com poucas e esparsas repetições eram mais algumas dificuldades que poderíamos
encontrar.
A equipe estava formada, eu e Roberto Sponchiado “Beto”, nenhum de nós havia
escalado a via antes e a idéia de repeti-la nesta temporada surgiu durante a escalada da
Crazy Muzzungos um mês antes. O clima estava perfeito sem frio e um pouco quente o
suficiente para escalar de camiseta e não chovia há meses.
Sem muita preocupação conversamos com o Bruno “Cabeção” que já havia repetido a
via duas vezes para saber dos “betas”. Um dia de descanso antes de entrar na via, passeio
com a namorada em Campos do Jordão, um chopinho de tarde e cama cedinho para
encontrar com o Beto às 7h.
Uma espessa neblina cobria a manhã e escondia o céu azul, depois das diversas curvas
para se chegar ao estacionamento do Bauzinho finalmente às 9h iniciamos a caminhada
para a base. Beto iniciou as primeiras cordadas em um longo trepa mato um pouco mais
difícil do que o Bruno havia descrito, tanto que fizemos encordados! Guiei a primeira
cordada em rocha por uma aderência fácil que leva até a base da parede vertical, a segunda
cordada segui por uma fenda a direita depois da ultima chapeleta que me levou a lugar
nenhum! Desescalei até a chapeleta e segui pela esquerda em um lance aéreo muito bonito
seguindo por agarras grandes até os blocos soltos que antecedem a parada abaixo do grande
teto, linda cordada! O teto inicia com um rurp que esta na via e logo depois segue por peças
sólidas em uma fenda grande e negativa, não consegui encontrar o furo de clif para cruzar
para uma fissura e para não perder mais tempo segui pela fenda até o teto onde após mais
peças sólidas, um píton, uma chapeleta e uma passada em clif bonita sai do teto e cheguei à
parada. Era o óbvio da linha e a escalada mais natural e limpa a se fazer! Gostei muito da
cordada mais foi mais fácil do que imaginei!
Depois de ouvir algumas reclamações do Beto, o teto não é digamos muito cômodo
para limpar, ele guiou a enfiada seguinte. Cordada adrenante, com lances expostos e
sujinhos e se cair vai para baixo da parada, fica pendurado no teto! O Beto mandou muito
bem e seguimos para a próxima cordada com o sol se pondo e chegamos ao cume na ultima
luz e sem lanternas! Aquele ritual habitual encerrou mais esta escalada que tive o prazer de
dividir com o amigo Beto. Grandes paredes e grandes amigos, a melhor receita! Até a
próxima!

Texto escrito em 2007 para o site Alta Montanha por Daniel Fernandes.